Dou por encerrada minha discussão com Vinícius Brandão, presidente da CDL, e, sim, meu amigo — apesar de suas últimas declarações parecerem ter saído mais de um porta-voz da prefeitura do que de um representante classista. De fato, fugi do embate. Não por medo das ideias, que aliás não encontrei maiores fundamentos, mas talvez pelos quase dois metros de altura do Vinícius — ou, quem sabe, por ter aprendido que depois de certa idade, certas discussões apenas desperdiçam energia, e pior: comprometem a paz de espírito. Estou é correndo de problemas. Quanto mais longe de problemas, melhor. Prefiro ser feliz do que ter razão. Prefiro a paz e o sono dos justos.
Paz essa que ainda conservo, talvez porque tenha passado os últimos 20 anos escrevendo o que penso, com acidez e crítica, sem pedir permissão à mesa de nenhum político. E não seria agora, principalmente com o gestor que está aí, mestre no ilusionismo e na retórica, que eu iria mudar. E fazer isso, numa cidade em que muitos preferem trocar dignidade por uma vantagem qualquer ou uma nomeação na prefeitura, é um ato revolucionário. Digo isso com tranquilidade, inclusive ao Vinícius, que sei que não faz parte desse jogo — mas que, lamentavelmente, parece ter se esquecido disso em sua última nota.
COMO NA PALMA DA MÃO
Conheço Porto Seguro como poucos. Sei quem é quem. Sei quem trabalha, quem finge trabalhar, quem vende apoio, quem compra silêncio. Sei quem trai, quem mente, quem muda de lado conforme o vento político. E, talvez, por conhecer demais, optei definitivamente por ficar à margem das palmas fáceis e das selfies com autoridades. Tenho meus defeitos, claro. Mas ninguém pode me acusar de ser desleal aos meus princípios, nem de usar o meu antigo jornal ou este blog como ferramenta de chantagem — um vício cada vez mais comum por aqui. Pelo contrário, sou é prejudicado por me levantar contra os abusos que presencio diariamente.
Quanto ao que fiz no Balcão de Justiça, enquanto advogado conciliador, não me cabe exaltar. Prefiro deixar que falem os casais que voltaram a se entender, os filhos que deixaram de passar fome ou que voltaram a conviver com seus pais, os humildes que até hoje me param na rua para agradecer. Nunca precisei gritar para mostrar serviço.
SOBRE A EX-PREFEITA
A ex-prefeita Cláudia Oliveira? Confesso que estou bastante chateado com ela. Mas negar o que vi com meus próprios olhos seria no mínimo desonestidade intelectual. Entre os gestores que já passaram pela prefeitura, ela foi a mais séria, a mais dedicada, a mais digna, e a mais consciente da responsabilidade de governar. Reformulou e azeitou a máquina pública, não endividou o município, entregou com R$ 28 milhões em caixa e sem dívidas., mesmo tendo enfrentado a pandemia e a queda brutal na arrecadação.
Nenhum assessor fantasma. Nenhuma obra com empréstimo. Nenhuma promessa impossível. Não se trata de santificação — mas, se for para comparar, não seria exagero sugerir uma estátua. Hoje Porto Seguro deve em torno, presume-se, de 400 milhões de reais, em dívidas a serem pagas e retidas do FPM pelos próximos 15 ou 20 anos, o que significa dizer que nenhuma obra foi feita com recursos próprios nos últimos 5 anos, com mais de – pelo menos - 1000 assessores fantasmas pendurados na folha de pagamento sem trabalhar e sem a menor necessidade.
EMBORA INVESTIGAR
E antes que digam que estou defendendo o passado por conveniência, deixo o desafio à atual gestão: que apresentem uma única evidência de que, entre 2013 e 2020, propus qualquer projeto, me envolvi em negócios nebulosos ou recebi qualquer favorecimento ilegal. Pelo contrário, minha postura era de cobrança e fiscalização. Quem quiser, que pergunte aos ex-vereadores. Ou à própria ex-prefeita.
ALTOS GANHOS, COM CERTEZA, MENOS PARA A POPULAÇÃO
Já quanto ao reajuste de 100% da Zona Azul, Vinícius, me desculpe, mas é injustificável. Chamar isso de ganho para a população é um acinte à inteligência de quem paga a conta — principalmente quando se eliminam os descontos progressivos ou os que beneficiavam os moradores. Faça os cálculos: nem o IPCA, nem o IGP-M, nem a inflação do Zimbábue explicam esse salto estratosférico. Trata-se, pura e simplesmente, de mais um aperto no bolso do povo, já sofrido com esse STF e o governo Lula, que são outros acintes à inteligência humana.
O ÚLTIMO DESAFIO
E se é para falar de desafios, lanço o meu, o derradeiro: já que você confia tanto na integridade do atual prefeito, peça à Portran, em nome da CDL, o valor arrecadado com multas de 2021 para cá. Esse dinheiro, por lei, deve estar no Fundo Municipal de Trânsito. Cadê ele? Onde foi parar? Mais de, presume-se, R$ 50 milhões arrecadados, e a pergunta que ecoa é simples: tem recibo? Porque se a resposta vier com notas frias de placas de sinalização, cursos fantasmas ou aluguel de telão, aí, meu caro, o debate está encerrado por razões morais — não por covardia.
Portanto, Vinícius, aceito o fim do nosso debate como se aceita o fim de um jogo em que os dois times sabem que o placar está lá, na cara de todo mundo. Só peço, de coração: evite me ensinar o que é trabalho legítimo, porque trabalho há mais de 40 anos em Porto Seguro e nunca precisei de folha da prefeitura para existir. Nunca fui amigo de prefeito corrupto. Nunca precisei puxar saco de ninguém. Se você quiser que eu diga onde estão meus resultados, basta olhar o meu passado.
O espelho, Vinícius, como você bem disse, fala. E o meu, ao contrário de muitos, não foi presente de político.