FAKE

 

Se antigamente o papel aceitava qualquer coisa, hoje a inteligência artificial aceita mais ainda — e com menos vergonha. Agora não é mais necessário um redator, um repórter ou sequer um estagiário. Basta alimentar um robozinho com palavras como “grileiro”, “latifúndio”, “milícia fundiária”, “indígena”, “reforma agrária” e “governo popular” e,  - voilá - temos um editorial prontinho, envolto em vitimismo retórico, recheado de adjetivos militantes e com cara de reportagem.

 

A peça mais recente dessa nova modalidade de ficção política atende pelo pomposo título de "Grilagem, Fraudes Cartoriais e a Criminalização da Reforma Agrária: O Ataque aos Camponeses em Porto Seguro”. O título já entrega o jogo: aqui não se quer informar, mas catequizar. A narrativa já vem pronta, os vilões definidos, os mocinhos canonizados — e a realidade? Ah, a realidade é um detalhe inconveniente.

 

Complô universal?

 

Pois bem. Segundo os autores (ou talvez seus algoritmos), camponeses puros e indígenas angelicais estariam sendo escorraçados de suas terras por empresários malignos, com o apoio — veja só — de cartórios, juízes, políticos, jornalistas e até entidades cósmicas. Um complô universal, aparentemente.

 

A história não se sustenta por um parágrafo sem escorregar na própria lógica: como podem ser “pobres camponeses expulsos por grileiros milionários” se **receberam — em dinheiro — por essas terras não uma, mas duas ou até três vezes?** Não se trata aqui de uma injustiça, mas de uma performance. Recebem, saem, retornam, ocupam, voltam a receber e — surpresa — ocupam de novo. É a reforma agrária em looping, financiada por indenizações públicas e privadas.

 

Mas o mais novo capítulo dessa novela é ainda mais audacioso: agora tentam colar no cartório de Porto Seguro — aquele mesmo que nunca teve condenação por fraude nessas transações — a pecha de cúmplice do crime organizado. Tudo porque a Corregedoria abriu uma investigação (como manda o protocolo, aliás), e isso já virou prova de culpa para os redatores do panfleto.

 

Aliás, “panfleto” talvez seja bondade. O texto em questão parece ter sido redigido por um chatbot programado no diretório acadêmico de Ciências Sociais da USP. Expressões como “máfia fundiária”, “Liga da Justiça dos grileiros” e “mídia golpista” não são argumentos, são slogans — feitos para repetir, não para explicar.

 

Tentando reescrever a história

 

E não para por aí: qualquer jornalista que ouse relatar o outro lado da história — aquele que mostra **acordos assinados, documentos autenticados e reintegrações de posse com ordem judicial** — é automaticamente rotulado de “miliciano da informação”, “agente do latifúndio”, ou, como diz o texto, “ex-jornalista a serviço dos grileiros”. Curioso que ninguém se incomode com a quantidade de vezes que esses “camponeses” foram indenizados, nem com o fato de que seus próprios advogados **reconheceram, em recentes reuniões em Salvador**, que estão tentando “chegar a um novo acordo”. Leia-se: **extorquir mais uma rodada de pagamentos de Moacir Andrade, Preciatto e Philippe Meus.

 

A função social da terra — tão evocada no grito militante — não inclui o direito à trapaça. A Constituição garante terra a quem nela trabalha, mas não premia a esperteza de quem finge sair para depois voltar com faixas e slogans. Litigância de má-fé não é militância; é crime processual.

 

A verdade que em breve virá

O Judiciário — esse mesmo que os panfletários acusam de estar a serviço dos empresários — continua a funcionar com base em provas, não em hashtags. E por mais que a IA escreva bonito, ela não altera fatos. Matrículas registradas não viram falsas porque uma militante de colégio resolveu criar um PDF cheio de adjetivos revolucionários.

 

O que há, no fundo, é a velha tentativa de maquiar a esperteza como resistência. O que se vê não é luta pela terra, é tentativa de penhorá-la pela terceira ou quarta  vez. E o que se lê nesses textos “criados” com IA é apenas um roteiro repetido: o de sempre — onde o vilão é o capital, o herói é o “oprimido” e a verdade é um detalhe que só atrapalha.

 

E quando a polícia realmente busca os verdadeiros criminosos, encontra nada menos do que 7 potentes e modernos fuzis junto aos acampamentos, como aconteceu no dia de ontem.